Staind — “It’s Been A While”: O grito que chegou tarde e ainda assim foi a tempo

Staind — “It’s Been A While”: O grito que chegou tarde e ainda assim foi a tempo

It’s been a while…” — é sempre assim que começa. Um arrastar de alma em modo confissão, um riff lento como um cigarro a arder num quarto escuro. E é aí, nesse lodo emocional, que os Staind cravaram um dos maiores hinos do pós-grunge do novo milénio. Uma música que, sem pedir licença, subiu até aos píncaros dos tops mundiais como quem carrega um piano de culpa às costas — e ainda canta por cima.

Lançada em 2001, It’s Been A While não foi só uma música. Foi uma avalanche emocional disfarçada de balada suja. Subiu ao número 5 da Billboard Hot 100, um feito colossal para uma banda que não vinha da pop, nem da rádio fácil, mas sim das margens angustiadas do nu-metal e do grunge ressacado. Foi número 1 na Billboard Modern Rock Tracks durante 20 semanas consecutivas — uma das maiores permanências da história desse top — e também dominou a tabela Mainstream Rock.

No Canadá, alcançou o número 2, no UK Singles Chart entrou no top 20, e na Austrália e na Nova Zelândia bateu igualmente forte, com destaque nas principais rádios e posições relevantes nos ARIA Charts. Foi uma daquelas faixas que transcendeu subculturas. Tocava no carro do tipo que lia Bukowski, no quarto do miúdo com cabelo oleoso e guitarra desafinada, e até no casamento do teu primo — sim, aquele primo sensível.

Aaron Lewis, o homem por trás da voz, não canta — geme, sussurra, arranha. Como se cada verso fosse uma tentativa desesperada de manter-se inteiro. A canção fala de vício, culpa, arrependimento. “And everything I can’t remember / As fucked up as it all may seem” — há algo de cru aqui, algo que a pop filtrada a glitter jamais conseguiria simular. A beleza de It’s Been A While está no fracasso honesto, na confissão sem apelo nem redenção.

E há qualquer coisa de irónico no sucesso desta música: foi escrita anos antes de ser lançada, escondida no caderno de Lewis como um segredo mal resolvido. Quando chegou ao mundo, o mundo estava pronto. Ou talvez precisasse desesperadamente de algo assim: imperfeito, humano, brutalmente real.

It’s Been A While é o lado B da virilidade americana. É o homem que chora quando ninguém vê, que escreve cartas que nunca envia. É a frase que se diz depois da tragédia emocional: “não sei o que dizer, mas isto que estou a cantar é o mais próximo que consigo”.

Enquanto isso, o riff continua. A voz falha um pouco. E tu percebes que o mundo, por um segundo, parou para ouvir um homem a pedir desculpa. E foi ao som disso que Staind gravou o seu nome na história da música pesada com coração partido.

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